Carolina Bori: professora, pesquisadora, guerreira
Carolina no ato da Adusp de 1º/4/2004
No dia 4/10 faleceu, aos 80 anos, a professora Carolina Bori, vítima de complicações decorrentes de uma pneumonia. Presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a professora era um dos maiores nomes da pesquisa no país. Iniciou seus estudos na área de psicologia social e depois introduziu a análise de comportamento no Brasil.
Na USP, Carolina participou da criação do Instituto de Psicologia (IP) e de seu Programa de Pós-Graduação, o qual coordenou durante quinze anos, tendo orientado mais de 100 trabalhos de mestrado e doutorado. Também ajudou a fundar o IP da Universidade de Brasília (UnB), o Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (Ibecc), a Associação Interciência e a Estação Ciência.
"É muito difícil destacar uma coisa que ela tenha feito, porque são muitas. Ela teve uma atuação muito importante não só para a psicologia, como para a ciência no Brasil de um modo geral", diz o professor José César Coelho de Rose, do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que foi orientando de mestrado e doutorado de Carolina e depois trabalhou ao seu lado no Conselho Editorial da Revista Psicologia.
"Em relação à pesquisa, foi uma das pessoas que mais contribuiu para o fortalecimento da psicologia como ciência", assinalou o professor de Rose. "Realizou pesquisas que marcaram época e desenvolveu aplicações à educação e a outras áreas. É uma professora, pesquisadora e cidadã que vai fazer muita falta".
"Perdemos uma guerreira"
Ele lembra que a professora ocupou a Presidência da SBPC (1986-1989) justamente no período da elaboração da Constituição Federal: "Ela foi porta-voz da comunidade científica junto à Assembléia Constituinte, e teve uma história de luta na defesa da melhoria do ensino de graduação e pós-graduação no país".
Em declaração ao Jornal da Ciência de 5/10, a professora Glaci Zancan, ex-presidente da SBPC, destacou como legado de Carolina sua "luta infatigável pelo bem comum e pela construção de um país democrático e soberano". "Com o falecimento da professora Carolina perde o país uma militante valorosa na defesa da liberdade de expressão. Perde a universidade pública uma professora competente, uma guerreira. Perde a SBPC uma defensora intransigente de sua autonomia frente ao poder e aos interesses particulares. Perdemos todos nós a convivência com uma figura humana extraordinária pelo seu despojamento na busca de seus ideais", disse.
"A minha lembrança de Carolina Bori é muito antiga", declara outro ex-presidente da SBPC, o professor Aziz Ab’Saber, da USP. "Começa na sua atuação de aluna da antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras no ambiente do terceiro andar do edifício da Escola Caetano de Campos. Acompanhei depois toda a trajetória cultural, cidadã e de professora ao longo de muitos anos. Carolina teve um desempenho extraordinário no IP da USP e na SBPC. Ela foi mais do que uma heroína. Daí porque todos nós estamos estarrecidos com o seu passamento".
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